segunda-feira, 28 de setembro de 2015

O antipoeta

Te vejo dormir no reflexo da tela do computador e entendo. Você é um reflexo. Uma aparição. Uma imagem bonita que eu nunca vou poder tocar.
Você é o capítulo do momento.É essa história, minha história sendo escrita. Você é o símbolo da guerra que declarei a tudo e todos. Da desconstrução pela qual preciso passar pra continuar seguindo. Tantos tijolos não servem mais. O chão há de ser reasfaltado. Nesse chão não caminho mais. Afundo.
Você é o antipoeta. E eu, que sempre fui amante fiel das palavras, traio-as agora. Me apaixonei pela anti-poesia. Você não só não escreveu nunca nenhum verso, como declarou guerra a todos eles. E vive de ser objetivo. Pragmático. Se é, é. Se não é, não é. A racionalização é o método. Controlar, programar, saber prever o fim. Se preparar. Não ter pertença, não depender, não precisar. Não. Se. Apegar. Aparecer e desaparecer. Não criar padrões. Discordar.
Você nasceu ironicamente no mesmo dia que eu. Nasceu pra ser a negação de tudo o que sou. E como toda negação, é também uma afirmação de mim. Você sou eu, sendo o meu oposto. As duas caras de gêmeos.
E é assim que você vai passar na minha história. Sendo exatamente o que é. Meu reflexo e meu oposto. Minha imagem invertida. Sua esquerda é a minha direita e minha direita sua esquerda.
Ao me ver assim tão crua, ao me encontrar comigo e me tocar, literalmente, talvez eu entenda. Talvez eu possa seguir em frente. Talvez eu possa começar a ser um pouco o que sempre almejei. O contrário do que sou.
Pois termina assim. Faço como você e prevejo o nosso fim.

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