sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Amor de quinta

O amor... A busca pela palavra no google, tenho certeza, trará resultados infinitos. Desde textos absolutamente originais até bichinhos com corações latejantes e palavras com glitter. De grandes clichês a grandes descobertas. O amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se sente, é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer. 
Eu, particularmente, sempre detestei Camões. Algum professor de literatura já ousou canonizá-lo: "O maior poeta da história!", e eu ali, nos meus 15 anos, me perguntando o que haveria de tão maior naquele texto manjado. Continuo achando manjado, feio, exagerado, poesia de quinta. Mas em partes talvez eu entenda. Talvez agora eu entenda. Nessa noite chuvosa, um copo de café, o coração cheio, tão cheio que aperta, aperta muito forte. Desejando uma cerveja, não tem cerveja. Tem café, música latina, chuva e escuridão. Um ser solitário diante de uma tela, as palavras (old folks) fluem pela ferida aberta, mas não há solidão. Dói sem doer. Querendo e querendo negar. Um medo inexorável de perder, vontade irresistível de fugir. Porque de repente eu estou nua, exposta, aberta, entregue. Me sinto capaz de imensidões e ao mesmo tempo tão frágil e pequena. É êxtase e é tortura. Contentamento descontente.
Leve, como leve pluma, muito leve, leve pousa. Muito leve, leve pousa. Na simples e suave coisa, suave coisa nenhuma. Sombra, silêncio ou espuma, nuvem azul que arrefece. Simples e suave coisa, suave coisa nenhuma, que em mim amadurece.
Talvez seja necessária uma poesia de quinta. Mas não de quinta requintada, de quinta mesmo. Poesia de botequim, de bar de copo sujo, de calçada mijada, de viadutos pixados. A poesia dura das grandes metrópoles. A poesia doída da imundície. O gosto amargo da humilhação. Talvez seja preciso provar de todos os venenos para entender o amor. Provar e não morrer deles. Mas tê-los correndo nas veias. Ateando fogo a tudo que há dentro. Se apegar à breguice, aos exageros. Poesia de quinta florescendo nos peitos salgados de prostitutas. Poesia do hálito etílico, cachaça, álcool, cerveja, gasolina.
Find what you love and let it kill you.
O amor me virou do avesso. O amor não era nada do que eu esperava. O amor me liberta do relógio em tardes quentes atemporais, o amor me torna cativa de uma espera interminável. O amor faz de mim a menor e a maior das criaturas. A mais sortuda, a mais desprezível. Uma ganhadora da loteria e uma desgraçada, andarilha, mendigando. O amor me faz mendigar. O amor me faz dar tudo em dobro. O amor me floresce, o amor me murcha. O amor me sangra, o amor me costura. O amor me nega, o amor me suplica. Eu digo sim, eu digo não, eu fico confusa, eu mudo de ideia. O amor é real e duro de realidade. O amor queima, arde, acaricia. O amor é o amor. E só meu amor é meu amor. Amor é uma palavra que não sabe dizer. Nenhuma palavra sabe dizer. O amor não cabe em lugar algum.
A busca pela palavra no google, tenho certeza, trará resultados infinitos. Infinitas explicações se inventarão até o dia em que o Sol não mais possa nascer para olhos humanos. Mas o amor não estará em nenhuma delas. E cada amor será o único de sua espécie.



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