segunda-feira, 21 de julho de 2014

Poeira

O sol foi embora e levou consigo minha calma
a noite trouxe a ausência
o silêncio da sombra solitária
os suspiros dos olhares perdidos na janela
do ônibus
a cabeça que pende como se nunca mais quisesse tirar
o olhar do chão.
meu sentimento vaga
por lembranças e saudades
desconcertada, me parto
me desfaço
caio em farelos
seca e friável
como um pedaço de carvão
vôo com o vento
debaixo de pés e sobre sobrancelhas
sou poeira e fuligem
pó de construção
entrando pela janela do seu quarto
me embaraçando nos fios finos do seu cabelo
pousando nos dedos longos da sua mão
você me inspira, me expira, me tosse, me espirra
eu me espalho em partículas
por toda e qualquer direção
sou agora parte desse universo
da janela, da estante, do colchão
sou poeira cósmica
flutuando na imensidão
alcanço infinitos e torno a me espatifar
me espalhar e me fundir
ao chão

de repente!

é só meu reflexo na janela
do ônibus
e o meu rosto é só mais um rosto
sem nome e sem expressão
suspirando o ar coletivo da agonia
compartilhando o dia-a-dia
da solidão

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