domingo, 18 de agosto de 2013

Caleidoscópio

Preciso de palavras que me protejam. Que me completem, e que ao fazê-lo, extinguam definitivamente essa dependência gigantesca de outras pessoas. Preciso de palavras que me expliquem, que me expliquem porque sou assim, que de alguma forma impeçam essa sensação de insuficiência. Preciso de palavras que me inflem, que me façam parecer maior do que sou. Que mascarem, que vistam de cores e fantasias o meu espírito, minha consciência, ou seja lá o que for, para que seja forte e não envergonhe-se jamais de si mesmo. Preciso de palavras que soem inteligentes, que forneçam o olhar profundo e calado, a boca que sorri como um convite. Palavras que façam parecer que acredito em mim mesma, embora não acredite. Palavras que seduzam e que mintam descaradamente. Que neguem tudo o que anda dentro. Que sejam calmaria, ainda que tudo em mim seja tormenta. Que não me denunciem, que não me entreguem como sempre fazem, que não sejam reflexo límpido, mas caleidoscópio. Preciso de palavras turvas, que confundam a visão do que sou. Que contem histórias-metáforas, que deixem subentendido, que criem códigos e anagramas quase impossíveis de se decifrar. Palavras, palavras que na verdade não digam. Palavras que sejam sugestões. Palavras sem pontos finais, infinitas. Preciso de palavras que se façam quartel general, porto, alicerce. Preciso de palavras que jamais soem ridículas. Que jamais traiam. Preciso de palavras de coração frio.

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