quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Homo sapiens sapiens


23 cromossomos paternos e 23 maternos. Do amor de dois eis que surge uma célula. Alguns nanômetros de extensão, tão frágil, tão improvável, tão pequeno...
Um se torna dois, dois se tornam quatro, quatro se tornam oito, que se tornam dezesseis.
Estruturas que não passam de um aglomerado de elementos químicos tomam vida, e lá estão elas, seguindo uma receita tão bem estruturada: faça-se um braço! uma perna! um pulmão! um coração! um cérebro!
E do que era invisível, do que era desprezível possibilidade contra infinita probabilidade de falha, se constrói um indivíduo, um "eu" complexo, de artérias, veias, órgãos, pensamento, sangue, sentimento... Do sentimento humano, o mundo tal como conhecemos. Tudo o que saiu do homem e teve como única função preencher o vazio, a inexorável e imensamente assustadora consciência de nossa própria existência. Homem que sabe que sabe. Que sabe de seu próprio fim.
Embora olhando para dentro eu saiba, cada vez mais, da beleza inscrita nas linhas da existência, e embora eu me sinta completamente abestalhada diante da perfeição de um corpo que surgiu do invisível e que trabalha, com tamanha eficiência, com tamanha beleza e sutileza, para sua própria sobrevivência e a de sua espécie, ao olhar para fora o espanto é ainda maior: tudo isso é tão pouco, é nada.
Do amor de dois eis que surge uma célula. E um outro serzinho que é pedaço de um e de outro, amor que se faz concreto, que se faz independente de quem amou, que anda, que fala, que dissemina amor, se quiser.
Eu pensei, durante tanto tempo, que encontraria a poesia nos livros...






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