quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O Sonho

Valores convencionados por minha sociedade
Muito pouco duráveis, são decompostos
Tornam-se pó como os meus ossos
Como meu ser,minha poesia, meu sonho

Passava frente à biblioteca municipal, num fim de tarde de uma sexta-feira, quando fui surpreendida por uma imagem inusitada: uma menina sentada nos degraus laterais do velho prédio, saboreava um sonho gordo e cheio de creme.
Tinha o rosto inchado, claramente de chorar e dormir afogada nas próprias lágrimas.
Comia o sonho e lambia lentamente os dedos daquele açúcar de confeiteiro que lhe ia grudando aos montes na pele.
Outros transeuntes passavam e olhavam-na com curiosa desaprovação - foi quando entendi: detestavam-na.
Detestavam-na pois comia o sonho, e não só comia-o maravilhada, como parecia não dar ouvidos ao que o mundo com ferocidade gritava a plenos pulmões em suas orelhas - talvez tivesse ficado surda-muda do mundo - olhava absorta o nada. E nos seus olhos passavam brincando o passado, o presente, o futuro que não existe, o sentido que falta em todas as coisas.
Ela era uma bagunça explícita, mas conservava no olhar a paz desta placidez doída.

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